O início: "A Taberna do Tio Vicente"
No início do século XX, uma família de galegos de Maceiras, de apelido Ribeira Durão, depois de descer e subir, muitas vezes, a costeira em visitas à feira dos Arcos, acabou por se fixar junto ao rio Vez, mesmo à beira da ponte, na margem esquerda, à sombra do Cruzeiro do Senhor dos Milagres. Assim se viu fundada a Taberna do Tio Vicente, que, nos dias de festa, atraía os feirantes com uma deliciosa posta de bacalhau, que alcançou muita fama.
O famoso bacalhau
Nessa altura, o bacalhau salgado e curado era importado por comerciantes ingleses do Porto, a quem os galegos dos Arcos iam comprar, escolhendo sabiamente as folhas de melhor cura e de lombos mais altos.
Depois de demolhadas em água corrente, as postas vinham à mesa acompanhadas com batatas. A iguaria era regada com azeite de azeitonas moídas em galgas tangidas pela roda hidráulica nos ribeiros e escorria das prensas dos "lagares de varas" que extraíam apenas o melhor. Se na altura houvesse "estrelas" a classificarem as tabernas da época, estamos certos de que cinco não bastavam para celebrar os atributos do repasto, concebido pela arte culinária dos galegos, saboreado na margem do rio Vez, com a qualidade que hoje não se pode igualar.
Da taberna para hotel
Refere então a tradição que estas postas de bacalhau, e muito bom governo de vida, permitiram arrecadar o necessário para iniciar, a partir de 1912, a construção de magnífico hotel. Assim, em 1916 foi inaugurado o Hotel Ribeira, que representou durante os anos 20 e 30, e até aos dias de hoje, o melhor dos cartazes turísticos da nossa terra, sendo apreciado e referido por todos os visitantes que neste hotel passavam sempre para voltar.
A D. Conxeixãozinha do Ribeira
Tendo mudado de gerência dentro da família galega Ribeira Durão, chegou a constituir o reinado da Conxeixãozinha do Ribeira prestígio e significado verdadeiramente singular no Alto Minho e em todo o norte de Portugal.
A inspeção
Com as mudanças a que se atribui o nome do progresso na hotelaria, em 1960 o local acabou por ser inspecionado por fiscais, revelando-se indiferentes ou insensíveis à memória que não podiam entender das postas de bacalhau da Taberna do Tio Vicente ou da presença da Conxeixãozinha, que nunca mais se vai repetir. Por isso mandaram apear o nome consagrado de Hotel Ribeira, que o povo continuou a usar com convicção, condescendendo que ficasse em seu lugar Pensão Ribeira.
Um nome que ficou na memória
Todavia, o edifício permaneceu tal e qual e continuou a ser sempre consagrado e apreciado no tempo do amigo Sr. Joaquim do Hotel até às obras que se fizeram para alargar o Hotel Ribeira à antiga casa da Condessa de Porto Covo da Bandeira, D. Josefina Guedes de Herédia. A fachada original dessa casa da Condessa D. Josefina Guedes de Herédia foi a única característica estética que se manteve até hoje, sendo agora um dos componentes do Hotel, podendo-se apreciar desde a Rua Teixeira de Queiroz.
Uma história centenária
Podemos contemplar a beleza do Hotel ontem, hoje e sempre, a alindar a margem esquerda do rio, formando uma composição paisagística única e esplendorosa, que é conhecida e admirada em todo o mundo, onde as fotografias do edifício são magníficas, onde o recorte do telhado, as janelas e a varanda se refletem nas águas do rio, a formar, num espelho, singular imagem de bom gosto.
